quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Algumas questões sobre a teologia da prosperidade

1) Como, quando e por quem a Teologia da Prosperidade foi elaborada?

A Teologia da Prosperidade surgiu nos EUA nas primeiras décadas do século XX, mas começou a ganhar número significativo de adeptos e projeção mundial somente a partir dos anos 1970. Há um certo consenso entre os pesquisadores da Teologia da Prosperidade em considerar K. Hagin como seu fundador e principal expoente.

2) Como e quando chegou ao Brasil? Quais são seus principais representantes?

A Teologia da Prosperidade chegou ao Brasil nos anos 1970. Difundiu-se no país através de instituições paraeclesiásticas (como a Adhonep) e de denominações que surgiram nesses anos ou pouco depois, como Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara Nossa, para citar apenas as maiores e mais conhecidas. Os seus principais representantes são os líderes mais conhecidos das igrejas supra citadas que são, respectivamente, Bispo Edir Macedo, Missionário R. R. Soares, Apóstolo Estevam Hernandes e Bispo (Apóstolo?) Robson Rodovalho.

3) Quais os principais ensinamentos da Teologia da Prosperidade?

A Teologia da Prosperidade tem como núcleo a idéia de que é possível coagir/manipular a pessoa de Deus através da atitude humana da oferta financeira. Os adeptos de tal teologia acreditam que, ao ofertar uma certa quantia em dinheiro, Deus irá retribuir o que lhe foi dado em dobro ou mais. A relação com Deus deixa de ser motivada pelo amor e pela gratidão para se transformar em um negócio. A pessoa dá dinheiro ou objetos para Deus com o interesse de receber mais do que deu em troca.
A pessoa que oferta sempre o faz por desejar conquistar algo. Se conquista o que desejava através de sua oferta de fé, é porque soube confiar e esperar em Deus. Se não recebeu de Deus o que desejava quando ofertou, é porque não teve fé suficiente. Os fiéis sempre são responsabilizados pelo sucesso ou pelo fracasso de suas atitudes, jamais Deus ou os líderes da igreja local que freqüentam.

4) Qual a relação da Teologia da Prosperidade com outros ensinamentos do protestantismo?

Há a tese famosa de um dos clássicos da Sociologia, Max Weber, que procura ver as relações de continuidade entre a ética protestante e o espírito do capitalismo. Segundo Weber, há uma “afinidade eletiva” entre capitalismo e protestantismo. Ambos se construíram através de uma relação simbiótica. Não é por acaso que o protestantismo floresceu primeiramente em países que mais rapidamente se tornaram protestantes. Os primeiros protestantes, ao afirmar a supremacia da fé pessoal para a salvação, dispensando todo e qualquer meio objetivo/externo que pudesse evidenciá-la, passaram a ver o sucesso financeiro como um critério para avaliar quem era salvo ou não. Penso que a Teologia da Prosperidade é uma versão atualizada de um dos valores informais mais tradicionais do protestantismo.

5) Por que a Teologia da Prosperidade cresce tanto no Brasil? Além daqui e EUA, em que outro país a TP encontrou tanto eco?

Penso que o principal motivo do crescimento da Teologia da Prosperidade no Brasil se deve ao seu aspecto utópico. A Teologia da Prosperidade faz as pessoas pobres, doentes, excluídas e deprimidas, sonharem com um mundo de abundância (riqueza, saúde, inclusão e alegria!). Segundo o antropólogo C. Geertz, a religião tem o poder de criar uma motivação profunda e intensa nas pessoas. Acho que este trabalho de motivar e disciplinar a vida das pessoas tem produzido alguns frutos na vida de determinadas pessoas. Creio que, de fato, algumas pessoas têm "prosperado". Preocupo-me, todavia, com a massa, certamente maior, de pessoas que ofertaram quantias enormes e jamais atingiram o objetivo pretendido, o de ser mais rico do que era antes de dar o que tinha. Quem cuida pastoralmente desta pessoas? Quem tem se preocupado com o estado psicológico destas pessoas?